O “ranking” da felicidade

À PROCURA DA PALAVRA
P. Vítor Gonçalves

DOMINGO XXIX COMUM Ano B

Concede-nos que, na tua glória,
nos sentemos um à tua direita e
outro à tua esquerda
”.
Mc 17, 17

A expressão já é conhecida. Existe mesmo um organismo chamado “World Database of Happiness”, cujo objectivo é desenvolver estudos que possam medir o grau de felicidade das nações. Naturalmente que os países com melhores condições de vida, nomeadamente países do norte da Europa, ocupam os lugares cimeiros da tabela. Não se podem absolutizar estes estudos porque inúmeras são as situações humanas que geram felicidade ou infelicidade. Mas eles ajudam a perceber que as atitudes individuais, e em especial a capacidade de viver em equilíbrio e de estabelecer objectivos, contribuem para a transformação de cada um e de todo um grupo social. O que torna mais verdadeira ainda a frase atribuída a Santo Agostinho: “uma alma que se eleva, eleva o mundo”.
Ainda nos rescaldos dos conflitos em torno da educação foram conhecidos os “rankings” das escolas. A exigência é uma tónica constante dos melhores resultados. Mas não deixaram de me interpelar dois tipos de afirmações, recolhidas por um jornal, em duas escolas católicas. Numa delas, uma aluna afirma: “Os nossos professores ensinam-nos a ser as melhores em tudo”, e outra diz: “Ficar em primeiro é mais um orgulho do que responsabilidade.” “Ser as melhores em tudo” terá certamente um sentido de exigência e de trabalho, mas traduzirá uma sã competição e uma correcta visão da realidade? Mas a afirmação que me inspirou foi a do director de outra escola: “Eu quero que os meus alunos sejam os primeiros no ranking da felicidade.” Gosto mais desta perspectiva, feita também de exigência, mas que tem em conta a totalidade da vida.
É de admirar a coragem do pedido de Tiago e de João. E, para além da tentação primeira de os julgarmos soberbos e desejosos de poder, gostaria de pensar que pode traduzir o desejo de estarem próximos de Jesus e de, com Ele, exercerem também uma função de serviço. Como se fossem “primeiros-ministros” (que, na realidade, quer dizer “primeiros a servir”)! Mas o que me encanta é o modo como Jesus acolhe este pedido e faz dele ocasião para um compromisso com a sua vida e missão. “Beber o cálice” e “ser baptizado” tem o sabor da Páscoa, o sabor de uma vida entregue para a felicidade de todos. E será essa a lição para todos os discípulos: se queremos um “ranking” do seguimento de Jesus e da sua amizade, “servir e dar a vida” é o termo de avaliação. “Sentar-se” e acomodar-se a práticas vazias, ou correr para “ser os melhores” (talvez sem olhar aos meios e aos outros!) tem pouco a ver com isso. Que felicidade procuramos?

Sem comentários: