Paulo, de Cristo


Era uma vez uma estrada, uma carreira, um curso, um percurso,
que só havia uma maneira de fazer: a correr.
Está-se mesmo a ver
só se iria inscrever
quem não gostasse mesmo nada de perder.

Corria então nessa estrada
um famoso corredor,
a transbordar de zelo e de ardor,
indómito lutador.
Já se sabia,
saía
sempre vencedor.

Até que um dia
à hora do meio-dia,
do sol a pique e de Deus na via,
um novo corredor vindo de fora,
não se sabe de onde,
agarrava e ultrapassava
nessa estrada o corredor.

A estrada era para os lados de Damasco,
Paulo o corredor,
Jesus o novo vencedor.

Começa aqui outra história
de outro amor
com Paulo a correr
por dentro e por fora
até morrer.

Fora de si,
dentro de si,
movimento transitivo
no mapa, nos mares, nas estradas, nas cidades,
movimento intransitivo,
ao jeito de Abraão,
rasgando avenidas no próprio coração.

Mas não quis mais correr sozinho.
Para mim correr é Cristo,
dizia,
e corria agarrado à sua mão.
Uma mão na mão de Cristo,
a outra apertando a de um irmão
e outro irmão e outro irmão,
uma verdadeira multidão
em comunhão.

É verdade,
quando Jesus irrompe na vida de alguém,
interrompe a normalidade de um percurso,
e rompe essa vida em duas partes desiguais:
uma que fica para trás,
outra que se abre agora à nossa frente,
recta como uma seta directa a uma meta,
a um alvo, um objectivo intenso e claro,
tão intenso e claro que na vida de cada um
só pode haver um!



D. António Couto

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