CHAMO-TE


Quase nem damos por isso mas em cada dia somos chamados inúmeras vezes. É o telemóvel que regista todas as chamadas recebidas e não atendidas, são os filhos pequenos que “gastam” o nome da mãe, ou os alunos que o professor confirma a sua presença na aula. E quantas vezes chamamos outros, para uma ajuda, uma troca de palavras, ou para um reencontro inesperado nos corredores do metro? E que bom é sentirmos o nosso nome dito por uma voz amiga!

Muitas vezes me interrogo sobre o que pensará alguém que vá a um funeral cristão, sem ter outro contacto com a vida cristã, e ouça as inúmeras vezes que é dito: “Deus chamou a si o nosso irmão…” Como se a única vez que Deus o chamasse fosse logo para o levar! “Mais valia não o ter chamado, pois fazia-nos muita falta”, ouvi, um dia, alguém dizer com uma ponta de ironia.
É importante dizer que Deus está sempre a chamar-nos. Que essa é a sua grande especialidade desde que decidiu criar-nos como seres capazes de ouvir e de responder. É verdade também que não se cansa de nos chamar ainda que tenhamos um jeito especial em fazer “ouvidos de mercador”. E chama-nos à vida, a abraçar a beleza, a conhecê-l’O e a conhecer os outros e o mundo, a ir um pouco mais além dos limites que gente de alma pequena gosta de impor.
Acredito que Deus nos chama todos os dias, pelos menos setenta vezes sete, que é uma conta de que gosta muito. Ele sabe que temos a tentação do “buraco”, de rodarmos à volta de nós e entrar pelo chão dentro como um pião rodopiante, de arranjar uns “túmulos” onde acorrentamos o desejo de viver. Por isso, ao mínimo gesto de interesse da nossa parte faz logo o convite: “Vem, sai daí e vem Comigo. Vem ver a vida Comigo”!

E no início de mais uma semana de oração pela unidade dos cristãos importa rever a autenticidade dos nossos encontros. De fé e de vida. De humildade e de projecto. Os “buracos” e os “túmulos” podem parecer seguros, mas não são lugares de vida. Está Jesus a chamar-nos a quê nestes dias? Aonde quer que vamos e o que quer que vejamos? Queremos abrir os ouvidos e os olhos?

P. Vítor Gonçalves
Domingo II Comum, Ano B
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